Mulheres na Psicanálise: Virgínia Bicudo

A fim de homenagear as grandes psicanalistas, criamos a série “Mulheres na Psicanálise”. E a primeira só podia ser a brasileiríssima Virgínia Bicudo (1910-2003). Uma mulher que buscou a psicanálise e o conhecimento da psique humana a partir das injúrias e do racismo que sofreu. Talvez por isso também tenha direcionado o seu trabalho para os estudos raciais e para a expansão do conhecimento sobre a psicanálise e as neuroses, contribuindo para os estudos da época e deixando um grande legado.

“O que me levou para a psicanálise foi o sofrimento. Eu queria me aliviar de sofrer. (…) Eu tinha conflitos muitos grandes comigo mesma, mas achava que a causa era social. Desde criança eu sentia preconceito de cor. (…) Comecei a ler e ali encontrei a psicologia do inconsciente de Sigmund Freud. Aí disse: ‘É isso que estou procurando’. (..) Saí por São Paulo correndo, perguntando sobre onde poderia encontrar cursos de psicanálise.” [trecho da entrevista da psicanalista Virgínia Bicudo à Folha de São Paulo em 1994]

Em seu pioneirismo, introduziu os estudos raciais no campo da psicanálise, colaborou com a instituição e o crescimento da psicanálise no Brasil e, segundo conta, foi a primeira pessoa a iniciar a análise pessoal, que faria parte da formação dos psicanalistas brasileiros. Através de um programa de rádio e uma coluna no jornal, orientava jovens casais, famílias e pais no reconhecimento e tratamento de suas neuroses.



“A psicanálise pode fazer benefícios para a humanidade. Se melhoramos nosso psíquico, melhoramos a vida para todo mundo.”

 

Em entrevista em 1995, Virgínia conta que, ao se interessar em estudar psicanálise, foi questionada por um futuro professor quanto ao seu desejo de realmente fazê-lo, pois toda a sociedade iria contra ela por estudar a sexualidade, assunto tabu. Virgínia não cedeu do seu desejo pela clínica e pelos estudos. Assim, não só contribuiu com o seu trabalho teórico e clínico, como transformou a psicanálise, dando a esta teoria o seu acréscimo enquanto mulher, negra e brasileira que recebeu, como uma homenagem, o nome de sua avó materna, uma mulher negra que foi escravizada.

 

Luanda Chamarelli

Psicanalista, psicóloga e mestre em psicologia pela UFF, membro da rede Inconsciente Real e do grupo de estudos “Sonhos”.

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