Mulheres na Psicanálise: Melanie Klein

Melanie Klein (1882 – 1960) foi responsável por transformar a teoria clássica de Freud, construindo técnicas para o atendimento infantil. Além de pioneira no tratamento de crianças e de autistas através da psicanálise, Klein estava envolvida nos principais debates da comunidade acerca da sexualidade feminina e da gênese da feminilidade freudiana que, em alguns momentos de sua teoria, parecia centralizar o  desenvolvimento psíquico na figura paterna. Klein dá importância central à mãe e a coloca como objeto fundamental no processo do desenvolvimento do eu.

Sonhava em estudar medicina e especializar-se em psiquiatria, o que nunca se realizou em virtude da situação financeira da família. Ela chegou a estudar arte e história na Universidade de Viena, mas não graduou-se. 

Suas vivências pessoais influenciaram fortemente em sua pesquisa já que sua entrada nos estudos psicanalíticos se deu principalmente pela sua própria análise. Durante a infância dos filhos, a partir de sentimentos contraditórios, conforme relatado em sua autobiografia, Melanie Klein teve vários episódios de depressão e se afastou da família por longos períodos devido a isto. Sua relação com sua mãe também tem grande importância em sua biografia, pois estas tinham sentimentos ambivalentes, apesar da relação afetuosa.

O ano de 1914 foi marcado por grandes acontecimentos na vida de Melanie Klein: o nascimento de seu último filho, o falecimento de sua mãe e o seu encontro com a psicanálise. Aos 32 anos leu o texto “Sobre os Sonhos”, de Sigmund Freud, e iniciou sua análise buscando livrar-se da depressão.

Em 1921, Melanie Klein mudou-se para Berlim, também um importante centro tanto de atividade como de formação psicanalítica. Em 1922, aos 40 anos, tornou-se membro associado da Sociedade Psicanalítica daquela cidade. Melanie Klein recebeu diversas críticas em seu percurso como psicanalista, fosse ele por sua ascendência polonesa, sua falta de estudos acadêmicos formais, por ser uma mulher em um meio com maioria de homens ou por apostar na análise de crianças, função até então rebaixada.

Ainda assim, em 1927, tornou-se membro da Sociedade Psicanalítica Britânica e em 1932, Melanie Klein publicou seu primeiro livro, a coletânea “A Psicanálise de Crianças”. Morreu na Suíça em 1939.

Sua contribuição foi muito importante para a psicanálise com crianças tornando possível a aplicação do método psicanalítico ao tratamento de crianças e pacientes psicóticos. Melanie Klein apostava no brincar como correlativo a regra fundamental da psicanálise, a associação livre, para as crianças. Desempenhando papel fundamental no desenvolvimento da técnica da terapia do jogo, Klein defendia que como as crianças não são capazes de utilizar diretamente as técnicas da psicanálise, através do jogo estas poderiam associar livremente e assim expor seus sentimentos e conflitos. As técnicas desenvolvidas por ela, discordavam daquelas desenvolvidas por Anna Freud que buscava uma abordagem mais pedagógica ao se tratar de crianças.

A brincadeira para Klein era a maneira que a criança expressava seu mundo interno, por onde as fantasias infantis eram expressas. Então, interpretá-la era a forma de interpretar os conteúdos inconscientes das crianças. Utilizando esta técnica descobriu que como nos adultos a interpretação tinha o poder de agir sobre a ansiedade infantil associada à fantasia inconsciente.

 

Luanda Chamarelli

Psicanalista, psicóloga e mestre em psicologia pela UFF, membro da rede Inconsciente Real e do grupo de estudos “Sonhos”.

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