Dia internacional dos povos indígenas

Dia Internacional dos Povos Indígenas. Os povos indígenas, no Brasil, são formados por grupos diferentes entre si e que já habitavam territórios específicos quando nosso país foi colonizado pelos portugueses. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o que há em comum entre todos os povos indígenas, no mundo todo, é “o fato de cada qual se identificar como uma coletividade específica, distinta de outras com as quais convive e, principalmente, do conjunto da sociedade nacional na qual está inserida”. Não existe “o” índio, mas uma diversidade internacional de povos indígenas.

Estima-se que, na época da chegada dos europeus ao Brasil, fossem mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. Atualmente encontramos no território brasileiro 256 povos, falantes de mais de 150 línguas diferentes. Hoje, infelizmente, estamos presenciando novamente o Congresso (com o projeto de lei PL 490) trabalhar para completar o genocídio desses povos, que historicamente, desde que os europeus chegaram ao Brasil, têm sido vítima de inúmeras violências, tem desaparecido com a ganância e a interferência do homem em suas terras.

Atualmente os povos indígenas do Brasil estão lutando pelo direito de continuar existindo, como explica a jornalista Eliane Brum: “o marco temporal, esta tese é o maior ataque aos povos indígenas desde a redemocratização do Brasil. A Constituição de 1988 estipulou que todas as terras ancestrais dos povos originários deveriam ser demarcadas num período de cinco anos, o que, como sabemos, não aconteceu. Não se trata, é importante compreender isso muito bem, de “dar” terras aos indígenas, mas sim de reconhecer o direito ancestral dos indígenas a viver no território ao qual pertencem. É nada mais do que obrigação”. O Estado falhou pois muitas terras não foram demarcadas e agora querem, através desse projeto de lei, determinar que só teriam direito à terra os povos indígenas que estivessem em sua posse, no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. A tese desconsidera o histórico de expulsões, remoções forçadas e violências cometidas contra essas populações, em especial durante a Ditadura Militar, motivo pelo qual muitos povos só não estavam presentes para não serem mortos.

Diante desse cenário, podemos pensar que a necropolítica* parece se perpetuar e ser mais forte do que o suposto desenvolvimento do homem, que ironicamente acusa os povos indígenas de serem entraves do desenvolvimento…

Como nos ensinou muito bem Freud com a teoria das pulsões (1920), pulsões de vida e pulsões de morte são complementares e trabalham juntas, se relacionando em sentido vital, trabalhando o destruir para criar, recomeçar, refazer. Sem esse “equilíbrio”, digamos assim, ocorre uma separação importante cujos efeitos não são sustentáveis a longo prazo…

O que vemos acontecer, hoje, na relação homem-natureza, é um fenômeno insustentável, no qual a busca por uma suposta dominação totalizante e pelo dinheiro rompe delirantemente com qualquer dialética sobre como a natureza funciona (a natureza enquanto organismo vivo que reage). É romper com o indispensável, com o que precisa estar na trama porque é vital em todos os sentidos. Tudo se passa, hoje, como se existisse um caminho reto e direto ao prazer, basta destruir o que estiver no trajeto e agir inconsequentemente.

Temos uma sociedade doente, incapaz de reconhecer que não é soberana ou incapaz de se importar com o outro e as próximas gerações, que incluiria seus filhos e netos. A biodiversidade preservada pelos povos indígenas é preciosa e fundamental para nossa vida na terra. Buscar tirar vantagem disso, lamento, é uma vantagem no mínimo efêmera e egoísta.

As terras indígenas e seus povos existem! Ao invés de narrarmos uma história com eles, estamos apagando eles da história. Esse autoritarismo nos mostra o quão cindido está o desenvolvimento capitalista do desenvolvimento racional e até mesmo afetivo da sociedade em que vivemos. Os povos indígenas, sua riqueza cultural e biodiversa deveriam ser protegidos tal qual unidades de conservação, como parques e florestas nacionais, para que jamais se aproximem aqueles que não entendem que a terra é um organismo vivo que não suporta predadores, como nos conta o ambientalista Ailton Krenak. 

*Uso do poder político e social, especialmente por parte do Estado, de forma a determinar, por meio de ações ou omissões (gerando condições de risco para alguns grupos ou setores da sociedade, em contextos de desigualdade, em zonas de exclusão e violência, em condições de vida precárias, por exemplo), quem pode permanecer vivo ou deve morrer. Termo cunhado pelo filósofo, teórico político e historiador camaronês Achille Mbembe, em 2003, em ensaio homônimo e, posteriormente, livro.

 

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

 

Referências bibliográficas

https://pib.socioambiental.org/pt/Quem_sãohttps://pib.socioambiental.org/es/Not%C3%ADcias?id=58153https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/projeto-que-na-pratica-acaba-com-demarcacoes-pode-ser-votado-nesta-quarta-na-camarahttps://brasil.elpais.com/brasil/2021-06-24/congresso-decide-extinguir-a-amazonia.htmlhttps://www.ufrgs.br/jornal/ailton-krenak-a-terra-pode-nos-deixar-para-tras-e-seguir-o-seu-caminho/https://www.academia.org.br/nossa-lingua/nova-palavra/necropolitica

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