ABC do Inconsciente – As transformações da puberdade
Chegamos ao final de mais um texto freudiano, os “Três ensaios para uma teoria da sexualidade”. O tema desse último ensaio é a puberdade. No texto anterior, falamos sobre a sexualidade infantil.
A puberdade é compreendida por Freud como o momento de desfecho definitivo da configuração sexual infantil, no qual tendências da época infantil estarão presentes, mas agora somando-se a efeitos de significativas mudanças fisiológicas e pulsionais. Agora o sujeito conta com uma amplificação dos prazeres e uma nova meta sexual: o ato sexual em si.
Se antes as pulsões eram predominantemente auto eróticas, na puberdade o alvo da satisfação sexual transborda para além de carinhos, afetos e ternuras com o outro mais próximo e amado. O objeto da satisfação sexual precisará mudar pois a meta das pulsões se centraliza no órgão genital (pênis ou vagina), agora mais desenvolvido e com novas possibilidades de satisfação. Isso não significa que o prazer preliminar ou auto erótico das pulsões deixará de existir. Elas continuarão sendo parte, mas não o fim, porque ato sexual será o desfecho mais cobiçado de ser alcançado como satisfação.
É nesse momento que a escolha objetal (tipo de pessoa que lhe causa interesse sexual) se define para a criança, pois apesar de já ter os próprios pais ou cuidadores como objeto de amor, essa escolha será barrada pela cultura – contra o incesto – e cada sujeito terá de encontrar um objeto fora da família para amar. Os objetos amorosos pai/mãe terão de ser renunciados, recalcados. Freud não deixa escapar que as pessoas fazem isso de diferentes formas, existindo inclusive as que ficam neuroticamente impossibilitadas de se deixarem amar ou serem amadas, com todos os benefícios do ato sexual, por alguém que não seja seu primeiro objeto de amor, pai ou mãe.
Até mesmo a hétero, a bi ou a homossexualidade será definida nesse momento, passando inclusive por aprovações e reprovações sociais que poderão influenciar na composição da escolha inconsciente do objeto de amor.
O novo objeto de amor será aquele que conseguir “conquistar” nossas correntes ternas e nossas correntes sexuais (já vou explicar), possibilitando que o sujeito seja capaz de amar ternamente e desejar sexualmente uma mesma pessoa. Num único objeto, encontra-se ternura e prazer, amor e paixão.
Mas o que seriam essas correntes? Entendo que Freud denomina corrente terna e corrente sexual forças que nos fazem dirigir um interesse sexual ou de ternura pela pessoa. A corrente terna é marcada por um desejo de relação de ternura com o outro, afetuosa e demandante de cuidados, carinho e amor. A corrente sexual é auto explicativa: há um desejo carnal e genital pelo objeto.
Então a convergência da corrente terna com a sexual conjuga todos os desejos pulsionais num único objeto, possibilitando experiências como o amor e o ato sexual de máximo prazer.
Patrícia Andrade
Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real