ABC do Inconsciente: A Psicanálise para leigos.
A primeira questão que Freud se coloca a responder no texto “A questão da análise leiga” é se deveria ser permitido a não médicos (chamados de leigos) exercer a profissão de psicanalista e porquê. Freud defende que não seria necessário ter uma formação na medicina para tratar pessoas doentes psicologicamente, e que na verdade nem mesmo os médicos de formação estariam preparados para atender esses doentes, pois se trataria de um tipo diferente e específico de doença, afinal, mesmo nos pacientes que tinham queixas físicas e seus órgãos examinados, não se encontrava nenhuma causa fisiológica. Mas como um psicanalista ajudaria esse paciente a quem o médico não conseguiu ajudar? Conversando; sem utilizar instrumentos ou prescrever medicamentos. O autor diz que o tratamento psicanalítico não é como mágica, pois seu efeito transformativo levaria meses ou anos. Nesse tratamento o analista pediria apenas para que o paciente não omita nada que lhe venha à mente e que ignore quaisquer impedimentos em sua fala. Essa troca de ideias entre o paciente e seu analista, que teria acesso a todas as suas intimidades e ao seu mundo, sob tais circunstâncias do setting, seria algo tão incomum que Freud afirma poder levar a efeitos curiosos. Diferente de uma confissão (como na Igreja Católica) na análise o sujeito diria não apenas o que ele tem a confessar, o que ele sabe sobre si, mas seria convocado a dizer mais do que sabe, o que não se sabe. Isso pode parecer um paradoxo à primeira vista, mas fiquemos com essa questão… Freud também aponta que distração e dissuasão não fazem parte da técnica psicanalítica, que o analista não tenta o que o próprio paciente já tentou consigo próprio, que seria a auto dissuasão e a auto distração, algo como “deixa isso pra lá”, “a sua vida é boa, olha só quanta coisa você tem, pare de chorar…” O analista deve se interessar pela insistência do sintoma do paciente, sintoma lhe causa um sentimento forte e duradouro, que resiste a investimentos racionais, ajudando o próprio paciente a se aprofundar no objeto de sua queixa, questionando-o, desconfiando que nessa questão moram histórias e palavras importantes, mesmo que ela pareça a princípio sem sentido ou fora do racional. Falar mais para falar o que não se sabe, é mais ou menos por aí… E aí, você toparia?
Patrícia Andrade
Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real