Prevenção ao suicídio
No mês da prevenção ao suicídio, infelizmente temos que lembrar que tivemos um caso recente que chocou o país há poucas semanas, quando soubemos da morte de um adolescente bolsista, negro e gay estudante de um colégio de elite na capital de São Paulo, vítima de bullying.
Quando alguém se mata, será que tudo se resume a um problema de saúde mental individual, sobre o qual não temos responsabilidade enquanto sociedade?
O suicídio tem se tornado um problema de saúde pública cada vez mais preocupante.
A crescente taxa de suicídio entre jovens, que, segundo um estudo da Fiocruz Bahia, aumentou significativamente entre 2011 e 2022, nos força a refletir sobre por que essa tem sido a resposta escolhida. A questão vai além da saúde mental: trata-se de entender as condições sociais e culturais que podem estar levando pessoas a não encontrarem saída ou apoio. Em vez de apenas diagnosticar essas pessoas que se matam ou que tentam se matar como “doentes”, precisamos promover diálogos que abram espaço para toda ordem de discussão sobre onde estamos falhando
Resumidamente, não é só o sofrimento particular e individual que pode levar alguém a dar fim à própria vida. A política, a cultura e a educação têm peso fundamental no que diz respeito a tudo aquilo que pode levar alguém ao desespero, ao abandono ou isolamento radical e à depressão profunda. Quando se trata de pessoas muito jovens, como crianças e adolescentes, a vulnerabilidade psíquica a qualquer ordem de sofrimento é ainda maior.
Se o suicídio de alguém, jovem ou não, pode vir, justamente, do racismo, da homofobia, de violências e injustiças do Estado, de abandono social e econômico, como podemos prevenir esses suicídios-assassinatos?
O suicídio como resposta ao sofrimento imposto por uma sociedade doente é um desafio que precisamos enfrentar coletivamente.
A questão não é mais se devemos falar sobre suicídio com nossos colegas, amigos, filhos e jovens, mas COMO falar sobre ele. Reduzir o assunto a manuais ou listas de sinais pode reforçar a tragédia de uma sociedade que falha em construir redes de apoio. Mesmo quando a crise é algo mais individual, mais particular do sujeito e não tanto ligado a problemas do mundo exterior, a responsabilidade não é apenas do indivíduo que sofre, mas também da comunidade em torno dele, que deve agir em cuidado mútuo, como uma rede, oferecendo ajuda e cuidado (família, escola, amigos, o Estado).
É necessário reimaginar como nos relacionamos como comunidade. Ao invés de culpar o indivíduo que não encontra outras saídas, devemos nos perguntar como podemos, juntos, tecer laços de cuidado e empatia que ajudem a cuidar de uma dor que está insuportável.
É nossa responsabilidade emergencial, também, pensar em que mundo vamos deixar para os adolescentes. Um mundo corroído pela mudança climática e pela desilusão é algo que também justifica(rá) muitas mortes precoces. O que ainda podemos fazer a respeito?
Que cada um encontre um caminho de falar sobre esses assuntos tão difíceis com aqueles que amam. Não há fórmulas, mas há cuidados possíveis. Enfrentemos.
Se você estiver passando por um momento difícil, procure o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento gratuito e sigiloso por telefone (no número 188), por e-mail e por chat
Horário de atendimento por telefone: Disponível 24 horas
Horário de atendimento por chat: Dom – 17h à 01h, Seg a Qui – 09h à 01h, Sex – 15h às 23h, Sáb – 16h à 01h
Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio
Telefone: (11) 97647-0989
https://vitaalere.com.br/o-que-fazemos/
Referências:
https://piaui.folha.uol.com.br/suicidio-aluno-colegio-bandeirantes/
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/18/opinion/1529328111_109277.html
Patrícia Andrade
Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real