Tudo é sexual para a psicanálise? Sobre o prazer e a satisfação humana

Tudo é sexual para a psicanálise? Sobre o prazer e a satisfação humana.

Eis o texto escolhido para seguirmos nosso percurso sobre as ideias bases da Psicanálise é o (longo) texto de 1905 “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Por que este texto é tão importante?

Há um grande mal entendido popular em relação a Freud e a psicanálise, do qual o próprio psicanalista se defendera em sua época, a saber, a ideia de que a psicanálise acharia que todos os problemas humanos são sexuais. Sim, mas não! Para a psicanálise, a sexualidade humana não tem a ver apenas com os genitais e a relação sexual. A sexualidade humana teria que ver com modos de obtenção prazer e satisfação na vida, muito além da genitalidade. E isso seria só seria possível porque nós, humanos, não seríamos regidos por instintos mas por pulsões. A consequência disso é a ampliação da relação do ser humano com o prazer (desprazer) e a satisfação (insatisfação), muito mais complexa do que o observado no mundo animal. Para quem quiser se adiantar, recomendamos a leitura do texto “As pulsões e seus destinos” (1915), que será o próximo texto “base” a ser trabalhado nessa série do abc do inconsciente.

Se falamos em prazer e satisfação, é porque eles estão diretamente ligados ao sofrimento humano. E o que Freud fez como psicanalista foi investigar o sofrimento (formas de sofrimento); de que formas o humano obtém prazer e satisfação na vida já que todo sofrimento interfere diretamente na fruição dessas sensações. Em busca destes, com quais barreiras e impedimentos ele irá se confrontar na sua relação com o mundo, com o outro, com a Lei, com a cultura?

Freud sabia que o conflito é uma característica da subjetividade humana, diferente dos animais, e interessava ao psicanalista analisar, em partes diversas, do que seriam feitos os conflitos humanos e quais seriam os tipos de negociação possíveis que cada um encontra para si e seus conflitos.

Foi num momento desse mesmo texto que o autor definirá a criança, o bebê, como um “perverso polimorfo”, escancarando a sexualidade infantil para a sociedade de sua época com a cara e a coragem de seu espírito científico, argumentando, com fatos, contra a opinião popular sobre a sexualidade infantil, fundada apenas em moralismos e pré-conceitos. Tudo isso ele o fez para dissociar a ideia de sexualidade da genitalidade, mostrando que a sexualidade ampliada da psicanálise se aproxima do Eros de Platão, pois diferente do instinto, que é inflexível e tem um objeto-direto, a pulsão não teria, o que abre uma gama de possibilidades nas formas de obtermos prazer e satisfação. Vamos ver como Freud relaciona a sexualidade com a constituição do ser humano e sua importância no surgimento das neuroses (ao menos para o Freud de 1905 e o que ele pensava naquele momento, é o que veremos).

Feita essa breve introdução e ressalvas, podemos começar nosso percurso pelo texto. Aguarde o próximo “ABC do Inconsciente” neste blog.

 

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

 

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